O 1º Ouro brasileiro em Jogos Olímpicos
por Beto Lyra
Corria o ano de 1920. Vinte e nove países estavam participando dos VII Jogos Olímpicos da Era Moderna, iniciados em 1896, na Grécia. Cerca de dois anos após o fim da desgastante 1ª Grande Guerra, a competição retornava, dessa vez, em Antuérpia, na Bélgica. Era lançada, então, a bandeira olímpica, com seus 5 aros entrelaçados e coloridos, criada pelo Barão de Coubertin.
Na euforia da época, a musiquinha anunciava “30 milhões em ação, pra frente Brasil, do meu coração … “, destes trinta, dois milhões eram estrangeiros.
Bem, a história interessante aqui é como foi ganha a 1ª medalha de ouro brasileira em Jogos Olímpicos. Tudo começou com a desorganização da viagem da delegação brasileira para a Europa: apenas 10 dias para definir a equipe, comprar as passagens e embarcar os 29 valentes atletas, que foram jogados na 3ª classe do navio Curvello rumo a Lisboa e daí, de trem, em um vagão de carga descoberto, para Bruxelas. Acha pouco sofrimento e desorganização? Então, continue lendo.
De Lisboa a Bruxelas, tomou chuva direto, a bagagem da delegação molhou e estragou parte do material levado, infelizmente as armas da equipe de tiroe, mais tarde, enquanto aguardava a ida para Antuérpia, nossos atletas do tiro foram roubados, ficando sem os alvos e a munição. Bem, mas muito antes do ex-presidente Lula afirmar que o brasileiro não desiste nunca, um dos atiradores foi até a delegação norte-americana e conseguiu emprestadas armas, munição e alvos. Armas de treino, claro, porque as de competição seriam usadas pelos próprios donos.
de ouro olímpica para o Brasil competindo contra vários atiradores, entre eles quem lhe emprestara a arma. Em seguida, novas medalhas, uma de prata ganha por Afrânio Costa, outro atirador com arma emprestada e outra de bronze, com toda a equipe. Enfim, aquele acontecimento inimaginável, que ocorre muito raramente, e só quando os deuses do esporte estão de sacanagem com os competidores favoritos.
Encerrada a disputa de tiro, os brasileiros foram devolver as armas aos seus verdadeiros donos. Guilherme entregou a sua ao americano, que não a aceitou dizendo que ela tinha escolhido outro dono e agora pertencia a ele, Paraense.
Oitenta e quatro anos depois, eu era diretor de um monte de áreas na BM&F e acabei montando o Espaço Cultural, que hoje é famoso e disputado por vários artistas e galerias que ali querem expor suas obras. Realizei exposições artísticas que iam desde a maravilhosa coleção de quadros da própria bolsa, com Portinaris, Guignards, Anitas Malfattis e tantos outros excelentes artistas, até a montagem de uma sala especial que fazia parte da Bienal de Arte de São Paulo, em 2004. Mas, eu gostava também de realizar exposições populares, como a de Alberto Santos Dumont, para comemorar o centenário de seu voo com o 14 Bis. E foi assim que, em 2004, fiz com o apoio do COB a exposição “Jogos Olímpicos: Arte, História e Design”, que expôs pela primeira vez ao público a arma com que Guilherme Paraense ganhou a 1ª medalha de ouro brasileira em Jogos Olímpicos.
Em Tempo: Hoje vi na TV uma entrevista com o presidente do COB, Artur Nuzman, que disse que os atletas de Jogos Olímpicos mais profissionais (sic) que ele conheceu são Roberto Scheidt e Roger Federer. O espírito olímpico não deveria ser amador?